por maneco nascimento, de Teresina para Exclídos Urbanos.
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“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, ainda haverá guerra.” (Bob Marley)
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Nos dias noticiosos, que nos perseguem, à manifestação humana sobre o princípio do poder e violência do homem, lobo de si mesmo (Hobbes), tem-se exemplos emblemáticos, a ver:
O da tomada violenta das vidas simples de Pinheirinho; a força policial sobre estudantes e grevistas; moças atiradas de edifício e a investigação policial local empurrando os indícios para debaixo do tapete oficial; as mortes “insuspeitas” dentro dos presídios superlotados por pobres e mestiços, e outras idiossincrasias que envolveriam papel e poder de determinadas forças oficiais patenteadas de lógica pragmática.
Poder, determinação e determinismo social sempre foram pedra de estoque de quem detém a força sobre as minorias. Os discursos ganham reveses do diverso, pernicioso, e sempre um grave perigo aos de menor força.
Do Brasil da unidade nacional, por exemplo, a política getulista assim manifestava-se pela autoridade local, em jornal de Teresina, na opinião de Pires Gaioso, diretor, à época, do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP):
“No Brasil a grande raça, que assimilou e se depurará das outras que são indesejáveis apenas por incultura e fealdade, - é a raça branca. Queira ou não queira a política. (...) A decadência desses negros puros é sentida e demonstrada pela estatística. Se nos centros populosos parecem muito evidentes é que acorrem a eles, desde a abolição, empregados na indústria doméstica e servis, onde não tem a concorrência branca. (...)” (Melo, Salânia M. Barbosa. A Construção da Memória Cívica – Espetáculos de civilidade no Piauí (1930 – 1945). Teresina: EDUFPI, 2010)
O assunto é tema de discurso, transcrito pela professora doutora S. Melo, contido no Jornal O Piauí, acerca da Conferência do Dr. Pires Gaioso sobre “unificação étnica e unidade política. 1943”. Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, com data de 22 de Setembro de 1945.
Continua o douto: “Os descendentes destes mestiçados com os brancos são produtos de passagem, porque além de vítimas preferidas pela tuberculose (por má higiene, alcoolismo e sensualidade)... pela neuropatia, são branqueados por sucessivas gerações ao ponto de parecerem de raça branca. Hoje em dia muito branco pela pele e cabelo, por outros índices recorda o labéu colorido.” (Idem, pag.66)
Se em 1943, auge do anti semitismo alemão e eugenia de raça, no Piauí o político assim fazia ideia de seus pares, em suas palavras, “mestiçados”, para política de higienização determinista e exclusiva à fomentação de “unidade nacional” e belepoquismo canhestro, o que dirá de novos discursos a esse admirável mundo contemporâneo de novíssimas tecnologias e neoprofetismo de fé e inclusão celestial.
Corre no facebook, com direito a foto da personagem “destacável”, discurso do Pastor Marco Feliciano que assim se expõe, imagino que em seu púlpito: “Os africanos descendem de ancestrais amaldiçoados por Noé. Isso é fato. Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, AIDS, fome...”
Quem atentar à ciência lingüística defenderia que os contextos da língua, linguagem, fala e oralidade sempre acompanham particularidades para defesas da comunicação, da expressão e do turno de se fazer entender e ter absorvido o discurso apresentado sob uma polifonia de textos impressos na interlocução desejada.
Uma amiga, Dadinha Leal, me marcou no facebook. Tratava das falas do pastor e assim se manifestou: “a biblia fala mesmo da maldição de um dos filhos de Noé chamado Cam. A igreja católica é que afirmou que se tratava dos africanos, eles seriam os descendentes de Cam, mas isso foi na Idade Média. Agora vem esse amaldiçoado por mim (e vai pegar), dizer uma estupidez dessa? Cadê a polícia?”
Polícia para quem? Veio-me a pergunta, imediatamente, após conhecer sua indignação. A força coercitiva está onde o povão está, a essa gente tratada como “índices de labéu colorido”, segundo o político Pires Gaioso. A polícia está para espancar, atirar com balas de efeito moral (borracha), spray de pimenta, cacetetes, tapas e arrastões, no asfalto quente, de “desordeiros e obstruidores da lei”.
“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, ainda haverá guerra.” (Bob Marley)
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Nos dias noticiosos, que nos perseguem, à manifestação humana sobre o princípio do poder e violência do homem, lobo de si mesmo (Hobbes), tem-se exemplos emblemáticos, a ver:
O da tomada violenta das vidas simples de Pinheirinho; a força policial sobre estudantes e grevistas; moças atiradas de edifício e a investigação policial local empurrando os indícios para debaixo do tapete oficial; as mortes “insuspeitas” dentro dos presídios superlotados por pobres e mestiços, e outras idiossincrasias que envolveriam papel e poder de determinadas forças oficiais patenteadas de lógica pragmática.
Poder, determinação e determinismo social sempre foram pedra de estoque de quem detém a força sobre as minorias. Os discursos ganham reveses do diverso, pernicioso, e sempre um grave perigo aos de menor força.
Do Brasil da unidade nacional, por exemplo, a política getulista assim manifestava-se pela autoridade local, em jornal de Teresina, na opinião de Pires Gaioso, diretor, à época, do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP):
“No Brasil a grande raça, que assimilou e se depurará das outras que são indesejáveis apenas por incultura e fealdade, - é a raça branca. Queira ou não queira a política. (...) A decadência desses negros puros é sentida e demonstrada pela estatística. Se nos centros populosos parecem muito evidentes é que acorrem a eles, desde a abolição, empregados na indústria doméstica e servis, onde não tem a concorrência branca. (...)” (Melo, Salânia M. Barbosa. A Construção da Memória Cívica – Espetáculos de civilidade no Piauí (1930 – 1945). Teresina: EDUFPI, 2010)
O assunto é tema de discurso, transcrito pela professora doutora S. Melo, contido no Jornal O Piauí, acerca da Conferência do Dr. Pires Gaioso sobre “unificação étnica e unidade política. 1943”. Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, com data de 22 de Setembro de 1945.
Continua o douto: “Os descendentes destes mestiçados com os brancos são produtos de passagem, porque além de vítimas preferidas pela tuberculose (por má higiene, alcoolismo e sensualidade)... pela neuropatia, são branqueados por sucessivas gerações ao ponto de parecerem de raça branca. Hoje em dia muito branco pela pele e cabelo, por outros índices recorda o labéu colorido.” (Idem, pag.66)
Se em 1943, auge do anti semitismo alemão e eugenia de raça, no Piauí o político assim fazia ideia de seus pares, em suas palavras, “mestiçados”, para política de higienização determinista e exclusiva à fomentação de “unidade nacional” e belepoquismo canhestro, o que dirá de novos discursos a esse admirável mundo contemporâneo de novíssimas tecnologias e neoprofetismo de fé e inclusão celestial.
Corre no facebook, com direito a foto da personagem “destacável”, discurso do Pastor Marco Feliciano que assim se expõe, imagino que em seu púlpito: “Os africanos descendem de ancestrais amaldiçoados por Noé. Isso é fato. Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, AIDS, fome...”
Quem atentar à ciência lingüística defenderia que os contextos da língua, linguagem, fala e oralidade sempre acompanham particularidades para defesas da comunicação, da expressão e do turno de se fazer entender e ter absorvido o discurso apresentado sob uma polifonia de textos impressos na interlocução desejada.
Uma amiga, Dadinha Leal, me marcou no facebook. Tratava das falas do pastor e assim se manifestou: “a biblia fala mesmo da maldição de um dos filhos de Noé chamado Cam. A igreja católica é que afirmou que se tratava dos africanos, eles seriam os descendentes de Cam, mas isso foi na Idade Média. Agora vem esse amaldiçoado por mim (e vai pegar), dizer uma estupidez dessa? Cadê a polícia?”
Polícia para quem? Veio-me a pergunta, imediatamente, após conhecer sua indignação. A força coercitiva está onde o povão está, a essa gente tratada como “índices de labéu colorido”, segundo o político Pires Gaioso. A polícia está para espancar, atirar com balas de efeito moral (borracha), spray de pimenta, cacetetes, tapas e arrastões, no asfalto quente, de “desordeiros e obstruidores da lei”.
(rone em ação/foto colhida do blog de john cutrim/jornal pequeno - o órgão das multidões online)
“Afrontar a elite branca e racista de São Paulo foi a estratégia de centenas de manifestantes – em maioria, negros – que, no sábado (11), saíram com bandeiras e faixas do largo Santa Cecília, subiram a avenida Higienópolis e ousaram entrar naquele que é o mais genuíno templo do racismo na cidade.” (Eles escandalizaram o templo do racismo em São Paulo, texto de Eduardo Guimarães/colhido de http://exurbanos.blogspot.com)
A matéria aponta que o ato público foi organizado pelo “’Comitê contra o Genocídio da Juventude Negra` e protestou contra a reintegração de posse do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, contra a ação truculenta da PM na Cracolândia e contra o caso de uma funcionária negra da escola Anhembi Morumbi que alega que a direção a pressionou a alisar os cabelos” (Idem)
Quem está incluído à repressão oficial e quem fica de fora, excluído do Estado repressor de desprotegidos, na hora de pesar interesses de política de sobrevivência do estado de governo.
“Afrontar a elite branca e racista de São Paulo foi a estratégia de centenas de manifestantes – em maioria, negros – que, no sábado (11), saíram com bandeiras e faixas do largo Santa Cecília, subiram a avenida Higienópolis e ousaram entrar naquele que é o mais genuíno templo do racismo na cidade.” (Eles escandalizaram o templo do racismo em São Paulo, texto de Eduardo Guimarães/colhido de http://exurbanos.blogspot.com)
A matéria aponta que o ato público foi organizado pelo “’Comitê contra o Genocídio da Juventude Negra` e protestou contra a reintegração de posse do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, contra a ação truculenta da PM na Cracolândia e contra o caso de uma funcionária negra da escola Anhembi Morumbi que alega que a direção a pressionou a alisar os cabelos” (Idem)
Quem está incluído à repressão oficial e quem fica de fora, excluído do Estado repressor de desprotegidos, na hora de pesar interesses de política de sobrevivência do estado de governo.
(charge de latuff 2012 sobre reintegração em Pinheirinho/arte colhida de exurbanos.blogspot.com)
“Ao mesmo tempo em que se reforça sobre as periferias, favelas e ocupações, em que intimida e maltrata mais os negros e mestiços do que nunca, a polícia começa a sentir o gostinho de estender a mão também a um público mais seleto, carne nova, de classe média, que, até pouco tempo, não fazia parte do seu cardápio habitual: alunos do ensino secundário, estudantes de universidades federais, doutorandos, professores doutores.” (O Brasil reinventa o totalitarismo – a nova máquina policial. Texto de Bajonas Teixeira de Brito Junior/colhido de http://exurbanos.blogspot.com)
“Quando você for convidado pra subir no adro/Da fundação casa de Jorge Amado/Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos/Dando porrada na nuca de malandros pretos/De ladrões mulatos e outros quase brancos/Tratados como pretos/Só pra mostrar aos outros quase pretos/(E são quase todos pretos)/E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos/ E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados (...)” (Haiti, Caetano Veloso)
Qual é a sua cor? De que raça brasilis o brasileiro forjou-se, ou a qual se declara. Brasil sem preconceito, sem discriminação e sem indivíduos de “não-lugar” (grifo de Edmar Oliveira) é o de uma ilha da fantasia. A realidade do país é crua e dura, mesmo que muitos a empurrem para debaixo da indiferença.
“Ao mesmo tempo em que se reforça sobre as periferias, favelas e ocupações, em que intimida e maltrata mais os negros e mestiços do que nunca, a polícia começa a sentir o gostinho de estender a mão também a um público mais seleto, carne nova, de classe média, que, até pouco tempo, não fazia parte do seu cardápio habitual: alunos do ensino secundário, estudantes de universidades federais, doutorandos, professores doutores.” (O Brasil reinventa o totalitarismo – a nova máquina policial. Texto de Bajonas Teixeira de Brito Junior/colhido de http://exurbanos.blogspot.com)
“Quando você for convidado pra subir no adro/Da fundação casa de Jorge Amado/Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos/Dando porrada na nuca de malandros pretos/De ladrões mulatos e outros quase brancos/Tratados como pretos/Só pra mostrar aos outros quase pretos/(E são quase todos pretos)/E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos/ E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados (...)” (Haiti, Caetano Veloso)
Qual é a sua cor? De que raça brasilis o brasileiro forjou-se, ou a qual se declara. Brasil sem preconceito, sem discriminação e sem indivíduos de “não-lugar” (grifo de Edmar Oliveira) é o de uma ilha da fantasia. A realidade do país é crua e dura, mesmo que muitos a empurrem para debaixo da indiferença.
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