sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

SENSO COMUM X BOM SENSO


Edmar Oliveira
 
O ano acaba com a tramitação de uma nova lei sobre drogas do ensandecido deputado Osmar Terra que se vangloria de fazer a lei que o “povo quer”. É na busca de votos que seu projeto endurece as leis sobre o usuário de drogas, que facilmente será confundido com o traficante, aumentando ainda mais a população dos presídios com jovens infratores sem antecedentes criminais. Se, por sorte, for identificado usuário resta a internação compulsória, pelo projeto tornada legal, e o recolhimento às comunidades religiosas – ditas terapêuticas. Um imenso atraso que joga no lixo a luta de usuários, cientistas sociais e trabalhadores que lidam com o assunto no seu dia-a-dia.

Estávamos, ainda engatinhando, tirando os usuários de drogas do campo da ordem pública para o da saúde pública. Recentemente rolou no território livre da internet uma brincadeira sobre usuários de drogas: como a mídia os via – um monte de zumbis a vagar em via pública; como a sociedade os tinha na conta de doidões irresponsáveis; a família que os viam como estranhos seres no seu seio; eles mesmos se vendo desgarrados da maioria; e na última alegoria como eles realmente são: médicos, engenheiros, estudantes, trabalhadores, enfim gente comum. De certa maneira achei que ali retratava o bom senso, diferente do senso comum das restantes visões.

O senso comum pode está sendo formado pelas aparências. E as aparências muita vezes enganam. O bom senso pede que se consultem especialistas, estudiosos no assunto e a própria comunidade de usuário, em nome de quem se faz a lei, para que a legislação reflita a realidade e não se torne um monstro anacrônico e conservador. Até porque o combate às drogas com a guerra explícita comandada pelos EEUU fez muitos estragos e só agravou o problema. Enquanto eles mesmos e todo o mundo estão tentando lidar com a questão de forma diferente ao senso comum do enfrentamento, o nosso congresso pode aprovar uma lei das cavernas para lidar com esta questão na modernidade. Aqui se precisa de bom senso. Atrás do senso comum a gente retorna ao passado.

E o perigo é a lei valer só para as aparências: para os pretos, pobres e favelados, os que já estavam excluídos antes da droga aparecer em seu caminho. Aí é fascismo.

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