Edmar Oliveira
O ano acaba com a tramitação de uma nova lei sobre drogas do
ensandecido deputado Osmar Terra que se vangloria de fazer a lei que o “povo
quer”. É na busca de votos que seu projeto endurece as leis sobre o usuário de
drogas, que facilmente será confundido com o traficante, aumentando ainda mais
a população dos presídios com jovens infratores sem antecedentes criminais. Se,
por sorte, for identificado usuário resta a internação compulsória, pelo projeto
tornada legal, e o recolhimento às comunidades religiosas – ditas terapêuticas.
Um imenso atraso que joga no lixo a luta de usuários, cientistas sociais e
trabalhadores que lidam com o assunto no seu dia-a-dia.
Estávamos, ainda engatinhando, tirando os usuários de drogas
do campo da ordem pública para o da saúde pública. Recentemente rolou no
território livre da internet uma brincadeira sobre usuários de drogas: como a
mídia os via – um monte de zumbis a vagar em via pública; como a sociedade os
tinha na conta de doidões irresponsáveis; a família que os viam como estranhos
seres no seu seio; eles mesmos se vendo desgarrados da maioria; e na última
alegoria como eles realmente são: médicos, engenheiros, estudantes,
trabalhadores, enfim gente comum. De certa maneira achei que ali retratava o bom
senso, diferente do senso comum das restantes visões.
O senso comum pode está sendo formado pelas aparências. E as
aparências muita vezes enganam. O bom senso pede que se consultem
especialistas, estudiosos no assunto e a própria comunidade de usuário, em nome
de quem se faz a lei, para que a legislação reflita a realidade e não se torne
um monstro anacrônico e conservador. Até porque o combate às drogas com a
guerra explícita comandada pelos EEUU fez muitos estragos e só agravou o
problema. Enquanto eles mesmos e todo o mundo estão tentando lidar com a
questão de forma diferente ao senso comum do enfrentamento, o nosso congresso
pode aprovar uma lei das cavernas para lidar com esta questão na modernidade.
Aqui se precisa de bom senso. Atrás do senso comum a gente retorna ao passado.
E o perigo é a lei valer só para as aparências: para os
pretos, pobres e favelados, os que já estavam excluídos antes da droga aparecer
em seu caminho. Aí é fascismo.
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