O Governo do Estado de São Paulo instituiu a internação compulsória
de usuários de drogas, com aparato da saúde, do serviço social e do judiciário
(para que, de forma enviesada, se cumprisse a legislação em vigor). A mídia
noticiou com galhardia e o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras
Drogas, pomposamente nomeado CRATOD (que lembra mais o crack na pronúncia, que
não foi explicitado no nome), teve data e hora para começar com ampla cobertura
midiática e seus dez leitos de observação.
Segundo pode ser lido nos jornais, logo no primeiro dia a
procura foi além das expectativas e os dez leitos não tiveram tempo de rodar a
clientela para a internação na rede de saúde. Inocentemente o Globo noticiou o
encaminhamento de alguns pacientes para o Hospital Psiquiátrico Lacan, sem
esclarecer que o manicômio já foi escândalo nas manchetes por maus tratos a
pacientes psiquiátricos. Os mais esclarecidos entenderam que o remédio era
antigo, amargo e com efeitos colaterais conhecidos. Isto é, o Centro midiático
era novo e inaugurado como solução pelo governador; dali os pacientes eram
encaminhados aos depósitos de sempre. Mas mesmo assim engarrafou e a procura
foi bem maior que a esperada. Por quê?
Acontece que a procura não foi feita pela a clientela que o
CRATOD visava. A proposta era recolher o desvalido nas cracolândias para fazer
de conta que estavam recolhendo compulsoriamente com a autorização da justiça.
A procura pelo serviço, no entanto, anunciado em profusão, foi feito pelos
familiares e pacientes que precisam de tratamento e não tem uma rede suficiente
e necessária para atender a suas necessidades e foram enganados pela mídia. A
falta de serviços para o atendimento a esta clientela estrangulou o atendimento
do novo equipamento. Coisa de políticos: em vez de melhorar e ampliar os
serviços inventam um novo como se inventassem a pólvora. A saúde está cheia
destas novidades que só aumenta a desassistência.
O CRATOD foi criado para maquiar a retirada dos pobres e
desvalidos que usam crack e incomodam a sociedade. Foi criada para higienizar a
cidade. Só que os que querem tratamento e não tem atropelaram o projeto da
limpeza urbana. Se tivessem os equipamentos necessários essa população de
abandonados também chegaria neles, sem a necessidade de uma regulação da
retirada da população de rua para os mesmos manicômios de maus tratos de onde
eles fogem como pobres diabos da cruz.
Os pacientes, na demanda espontânea não programada, procuram
o Centro de Referência que não tem para onde referir o atendimento. Uma
autoridade do CRATOD, apavorado com a procura, disse ao jornal que os pacientes
deveriam se dirigir aos CAPS antes de procurarem o Centro de Referência. Não é
interessante? Mas não era melhor ampliar o número de CAPS, sabidamente
insuficientes para São Paulo, do que apresentar a mágica de um novo serviço,
senhora autoridade? Assistimos a atitudes hipócritas.
(Edmar Oliveira)
(Edmar Oliveira)
Um comentário:
Bravo, Edmar. Texto corajoso e fundamental! Aos invés de Política faz-se politicagem. Quem sofre são sempre os mesmos.
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