sexta-feira, 20 de abril de 2012

Anatomia da Revitalização Urbana


Edmar Oliveira
Pegue uma região qualquer, nas grandes cidades, que está sendo ”revitalizada”. Pode ser o Porto do Rio ou a Estação da Luz em São Paulo, mas pode ser outra qualquer. O poder público (nesse caso melhor seria dizer privado) aliado à especulação imobiliária abandona uma determinada área da cidade. Há um incentivo, mesmo que indireto, de uma ocupação desordenada. Faz-se vistas grossa à ilegalidade. Por um longo período assiste-se a degradação. O tecido social se esgarça, o poder público ausente diminui a coesão social. O território, por ausência da lei, é tomado por grupos à margem da sociedade, migrantes despossuídos, e a economia local é baseada em pequenos comércios ilegais, prostituição e drogas. A cultura heterogênea possibilita atos violentos e pequenos furtos e assaltos. Em poucos anos o território está tão desvalorizado que a especulação imobiliária pode adquirir propriedades degradadas a preço de banana.

Pronto, basta agora o poder público (atendendo aos interesses e pressões privados) decretar a revitalização da área para que sejam expulsos os moradores abandonados em nome do progresso e da modernidade e assim se faz um novo bairro, moderno, com áreas comerciais e de lazer voltadas ao turismo, moradias planejadas e demais projetos necessários a sustentar a infraestrutura. Os serviços públicos são disponibilizados com limpeza urbana, segurança, transportes, iluminação, sinalização adequada, ou seja, tudo que foi negado à área degradada anterior. Mas não esqueçamos que ela foi necessária para viabilizar a revitalização.

As áreas revitalizadas não levam em consideração seus habitantes anteriores. Eles foram utilizados para a viabilização econômica do projeto. Nenhum edifício lhes é destinado, nenhum programa social lhes é oferecidos. São varridos do mapa. E hoje o que se chama de “cracolândia” é motivo suficiente para a desocupação higiênica. Pobres pobres: são os excluídos urbanos.     

Um comentário:

filipe com i disse...

Poder público se comportando como privado, esta é uma sacada profunda, caro Edmar! Muito boa a levada do site: informação, crítica e poesia. Bom dimais!