terça-feira, 22 de maio de 2012

A polícia não acha o traficante. O usuário acha


Bandidos vendem drogas no local e, para fugir da polícia, invadem apartamentos inaugurados no ano passado

MORADORES DO conjunto do PAC Roldão Gonçalves, em Mesquita, observam as casas da vizinhança Foto: Custódio CoimbraMORADORES DO conjunto do PAC Roldão Gonçalves, em Mesquita, observam as casas da vizinhança Custódio Coimbra

Inaugurado em novembro do ano passado, o Conjunto Habitacional Roldão Gonçalves, em Mesquita, na Baixada Fluminense, vem sendo alvo da ação de traficantes que instalaram um ponto de venda de drogas no pátio do condomínio de 144 apartamentos. Segundo moradores, os bandidos atuam livremente na área interna do empreendimento, construído com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, em parceria com o estado e o município, para assentar famílias que viviam em áreas de risco, às margens dos rios Iguaçu, Botas e Sarapuí. Além de venderem maconha e cocaína, os bandidos costumam invadir apartamentos para escapar da polícia, esconder drogas e, até mesmo, roubar os moradores.


Testemunhas ouvidas pelo GLOBO afirmam que, antes da construção do conjunto, os traficantes da Chatuba, bairro onde foram erguidos os prédios, já utilizavam o terreno, um antigo campo de futebol, como ponto de venda de drogas. Após a conclusão das obras, eles passaram a atuar na área interna do condomínio, protegidos pelo muro e sob a sombra de uma árvore:


Agora, eles ocupam as mesas e bancos de concreto que deveriam ser utilizados pelos moradores. Quando os carregamentos de droga chegam, se escondem dentro de apartamentos que ainda não estão ocupados. Também é comum, durante operações da PM, os bandidos entrarem nos imóveis, assustando os moradores disse uma testemunha, que pediu para não ser identificada, temendo retaliação dos criminosos.


Repórteres do GLOBO estiveram no conjunto habitacional e constataram a presença de um grupo formado por jovens, alguns carregando radiotransmissores. Aparentemente, nenhum deles ostentava armas, que, segundo testemunhas, também ficam escondidas durante o dia. Entretanto, dois deles permaneceram próximos à equipe, numa clara tentativa de intimidar os moradores. Diante disso, muitos se recusaram a falar com os repórteres. Atitude repetida por funcionários do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que dão assistência aos moradores reassentados.


Intimidados pelo vaivém dos bandidos, os habitantes também se recusam a criar uma associação de moradores para organizar as demandas das famílias assentadas. Um morador explicou que ninguém quer assumir a presidência ou mesmo postos na direção de uma associação por temor da reação dos traficantes:


Ninguém aqui quer assumir esse tipo de risco. Afinal, a gente sabe que os traficantes vão querer impor as regras deles e não a dos moradores. Não bastasse a presença dos bandidos, temos convivido com uma série de problemas de acabamento nos prédios e apartamentos disse.


A insegurança também seria obstáculo à ocupação total do conjunto, que ainda conta com imóveis vazios. À noite, alguns desses apartamentos são usados pelos traficantes para consumo de drogas e realização de festas. O conjunto é de responsabilidade do Inea, que mantém na unidade uma equipe de profissionais, entre assistentes sociais, arquitetos e até seguranças patrimoniais. Esses, porém, evitam comentar a ação dos traficantes.


Os moradores apontaram ainda uma série de problemas de acabamento no conjunto habitacional. Os prédios recém-inaugurados já apresentam infiltrações nas paredes, pisos soltos em vários corredores e imóveis, além de pequenas rachaduras. A assessoria do Inea disse que os problemas de acabamento serão sanados em até 50 dias, quando todos os moradores receberão os títulos de posse. Em relação ao tráfico, a assessoria do instituto informou que a questão cabe à polícia. O diretor de manutenção da prefeitura de Mesquita, José Calixto Batista, disse que a presença de traficantes na área do conjunto já foi informada ao comando do 20BPM, que, segundo ele, realiza operações constantes na localidade.

  

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