Edmar Oliveira
Duas notícias na mídia assustaram a classe média da zona sul
carioca. Assaltos em apartamentos em bairros nobres e moradores de rua roubando
os frequentadores do Aterro do Flamengo. Na primeira, invasão de domicílios; na
segunda o terrorismo de que no Aterro os frequentadores esportistas devem estar
correndo dos ladrões. Na primeira, depoimento dos assaltados; na segunda, fotos
de desocupados deitados na grama do Parque do Flamengo. Assim, como se fossem a
mesma notícia: insegurança na zona sul do Rio de Janeiro. Esse é apenas um
exemplo de desinformação de parte da mídia e da má fé de aproveitar o medo para
jogá-lo em cima dos excluídos urbanos.
Não diziam, as notícias, que os assaltos a residências são
de quadrilhas organizadas, consequência da ocupação policial das favelas da
zona sul. Não tendo qualquer parentesco com os moradores de rua do parque
público, os sem-lugar que enfeiam a paisagem e podem cometer pequenos delitos,
no desespero. Ao invés da mídia pedir assistência social aos sem-teto que
perambulam no parque, os associa deliberadamente à bandidagem, no intuito de
criminalizar a pobreza. E contribui na disseminação do preconceito. Sou um
frequentador daquele parque. E me preocupa o abandono em que se encontram
pessoas que dormem nos jardins, na areia da praia. Nunca os vi nem mesmo
abordando os frequentadores com pedidos de moedas. Estão na paisagem
encabulados, medrosos, teimando em viver num ambiente hostil. Podem cometer
pequenos delitos, como a denunciar a ausência do Estado para a situação de
penúria em que vivem. Mas não são bandidos, certamente a maioria.
Os sem-teto, sem-emprego, sem-esperança, sem-nada, marginalizados
em uma sociedade excludente, são confundidos com bandidos perigosos por uma
mídia sem-vergonha.
Um comentário:
essa mídia sem vergonha, ou é composta de moradores em seus apartamentos confortáveis, suas vidinhas arrumadas e sem descuido patronal para direcionar fogo de sensacionalismo e discriminação em quem enfeia a cidade maravilhosa arrumada para gente limpinha e que, por vezes, está sob a tutela de algum amigo do silêncio do Cachoeira.
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