terça-feira, 22 de maio de 2012

Terror na mídia


Edmar Oliveira

Duas notícias na mídia assustaram a classe média da zona sul carioca. Assaltos em apartamentos em bairros nobres e moradores de rua roubando os frequentadores do Aterro do Flamengo. Na primeira, invasão de domicílios; na segunda o terrorismo de que no Aterro os frequentadores esportistas devem estar correndo dos ladrões. Na primeira, depoimento dos assaltados; na segunda, fotos de desocupados deitados na grama do Parque do Flamengo. Assim, como se fossem a mesma notícia: insegurança na zona sul do Rio de Janeiro. Esse é apenas um exemplo de desinformação de parte da mídia e da má fé de aproveitar o medo para jogá-lo em cima dos excluídos urbanos.

Não diziam, as notícias, que os assaltos a residências são de quadrilhas organizadas, consequência da ocupação policial das favelas da zona sul. Não tendo qualquer parentesco com os moradores de rua do parque público, os sem-lugar que enfeiam a paisagem e podem cometer pequenos delitos, no desespero. Ao invés da mídia pedir assistência social aos sem-teto que perambulam no parque, os associa deliberadamente à bandidagem, no intuito de criminalizar a pobreza. E contribui na disseminação do preconceito. Sou um frequentador daquele parque. E me preocupa o abandono em que se encontram pessoas que dormem nos jardins, na areia da praia. Nunca os vi nem mesmo abordando os frequentadores com pedidos de moedas. Estão na paisagem encabulados, medrosos, teimando em viver num ambiente hostil. Podem cometer pequenos delitos, como a denunciar a ausência do Estado para a situação de penúria em que vivem. Mas não são bandidos, certamente a maioria.

Os sem-teto, sem-emprego, sem-esperança, sem-nada, marginalizados em uma sociedade excludente, são confundidos com bandidos perigosos por uma mídia sem-vergonha.

Um comentário:

Letras e letteras disse...

essa mídia sem vergonha, ou é composta de moradores em seus apartamentos confortáveis, suas vidinhas arrumadas e sem descuido patronal para direcionar fogo de sensacionalismo e discriminação em quem enfeia a cidade maravilhosa arrumada para gente limpinha e que, por vezes, está sob a tutela de algum amigo do silêncio do Cachoeira.