Essa semana os jornais noticiaram com ênfase a devolução de
vinte mil e uns trocados achados na via pública por um casal de moradores de
rua. Rejaniel e Sandra encontraram uma sacola deixada por bandidos que tinham
acabado de assaltar um restaurante e chamaram a polícia. Motivo da notícia:
eles não ficaram com o dinheiro!
Isso: ser honesto hoje em dia é uma notícia sensacional. O
que não é mais notícia é ser ladrão. Isso é normal. E o assunto é reverberado
como se qualquer um de nós ficaria com a grana. Devolver é ser otário, doente
ou herói fora de época. E isso é muito triste na propagação dos valores de uma
sociedade.
Ninguém parece ter ouvido as razões de Rejaniel para a
devolução do dinheiro: são moradores de rua, nada possuem. Gastassem o dinheiro
seriam presos como ladrões. Os colegas de infortúnio botariam olho grande e aí
eles teriam um enfrentamento com seus pares. Ninguém ia vender qualquer coisa
pra quem não tem nada. Portanto o dinheiro não tinha qualquer serventia na mão
de excluídos urbanos. Eram obrigados a devolver. Agora sim, podem estar bem
vestidos, ele barbeado e ela maquiada, pelas televisões que devem transmitir a
façanha de heróis.
Eles não podem ser pessoas como nós que ficaríamos com o
dinheiro que não era nosso, atendendo a ética da sociedade moderna. Mofariam
numa prisão por terem roubado o restaurante, como cúmplices, ou apropriadores indébitos
de terceiros. Pena agravada por sua situação de vagabundos e excluídos da
sociedade.
Rejaniel e Sandra foram expertos ao assumirem o papel de
heróis. Serão incluídos no sistema por alguns dias, ou escaparão das amarras da
exclusão, quem sabe?
Isso também é muito triste para os valores de uma sociedade
que convive com esta perversão. Políticas públicas para os excluídos não
mudariam o rumo de vidas náufragas? Isso é que a notícia mostra nas entrelinhas
e não queremos ver.
(Edmar Oliveira)
(Edmar Oliveira)
2 comentários:
Não são Ets não gente, claro, também não são políticos. São os "Excluídos Urbanos". Pessoas que muitas vezes as pessoas fecham os vidros do carro pq tem medo. Tenho medo dos políticos.
Abraços.
Dias de infortúnios a quem foi perdendo o direito à cidadania, garantia constitucional, porque os negócios de governos e seus lobistas e empreiteiros, marketeiros e cascateiros e cachoeiros consomem todo o tempo oficial de tratar de assuntos de governos. Políticas públicas de atenção ao cidadão comum, meio engodo, meio engana que eu gosto. quanto aos excluídos urbanos, nem heróis, nem "bons" mocinhos,só invisíveis. em terra de ladrões, ser mocinho parece defeito, que lambido, quando conveniente.
Postar um comentário