Quando eu era criança, os tempos são outros, sei, gostava
dos mocinhos do cinema e das revistas em quadrinhos. Tinha os meus heróis do
cinema e dos gibis: Rocky Lane, Hopalang Cassidy, John Wayne, Gary Cooper, Burt
Lancaster, entre outros. Eu sei, sei que isso revela o quando velho sou. Mas os
meus heróis de infância eram corajosos e ativavam dentro da lei.
Fiquei
duvidando de todos eles quando assisti “O homem que matou o facínora” (The man
who shot Liberty Valance, de John Ford, 1962). Lembrando os antigos e
atualizando os novos: neste clássico do cinema, um senador americano (James
Stewart) vai ao enterro de um pistoleiro (John Wayne) e num “flach back”
(técnica rara nos cowboys de antigamente) narra ao repórter a verdadeira
história vivida pelos dois: quando era um jovem advogado ficou famoso por matar
Liberty Valance (o facínora do título em inglês), mas confessava ao repórter,
que ouvia sua história no enterro, que o tiro fora dado pelo pistoleiro velado
e não por ele. O filme conta esse drama, mas o repórter diz que a história não
deve ser revelada quando a lenda é mais interessante. Entretanto em mim este
filme destruiu a lenda. O heroísmo era derrotado por uma emboscada na morte do
bandido, que nada tinha de heróica. Morreram ali meus heróis do colt. Decepção
igual a quando descobri que Papai-Noel não existia.
Pois bem, a
TV mostrou uma filmagem de cinegrafista amador e anônimo (claro) que
desmascarou uma história fictícia e heróica contada pelos policiais aqui no Rio
de Janeiro. Eles tinham declarado, em entrevista divulgada na mesma TV, que
haviam capturado os facínoras em uma troca de tiros. O PM entrevistado até
falou em “legítima defesa de injusta agressão”.
Na verdade foram flagrados numa cena covarde atirando na perna de um
perseguido já dominado e de mãos para cima. Com imagens chocantes que não
deixam dúvidas.
Com dúvidas
ficou a opinião pública quanto aos nossos heróis policiais, nesses dias de
UPPs, tão festejadas nas pacificações dos morros do Rio de Janeiro: quantas
vezes, longe de nossas vistas, as ações policiais são feitas de maneira covarde
e contada como heróica?
Temos que
investigar os crimes policiais de maneira exemplar. Diferente dos criminosos
civis, a ação policial é feita pelo Estado. E o Estado não pode julgar e justiçar
de maneira sumária. Julgar é tarefa do judiciário. O agente do Estado só pode
agir dentro da lei. E atirar no facínora covardemente não está dentro da lei,
por maior que seja o crime do bandido. Que fique claro: não se quer defender o
facínora, mas a lei.
Um comentário:
O estado não se vinga, ele faz justiça através dos órgãos de segurança pública e do poder judiciário.
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