segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Como a polícia mata o facínora

Edmar Oliveira

           Quando eu era criança, os tempos são outros, sei, gostava dos mocinhos do cinema e das revistas em quadrinhos. Tinha os meus heróis do cinema e dos gibis: Rocky Lane, Hopalang Cassidy, John Wayne, Gary Cooper, Burt Lancaster, entre outros. Eu sei, sei que isso revela o quando velho sou. Mas os meus heróis de infância eram corajosos e ativavam dentro da lei.

            Fiquei duvidando de todos eles quando assisti “O homem que matou o facínora” (The man who shot Liberty Valance, de John Ford, 1962). Lembrando os antigos e atualizando os novos: neste clássico do cinema, um senador americano (James Stewart) vai ao enterro de um pistoleiro (John Wayne) e num “flach back” (técnica rara nos cowboys de antigamente) narra ao repórter a verdadeira história vivida pelos dois: quando era um jovem advogado ficou famoso por matar Liberty Valance (o facínora do título em inglês), mas confessava ao repórter, que ouvia sua história no enterro, que o tiro fora dado pelo pistoleiro velado e não por ele. O filme conta esse drama, mas o repórter diz que a história não deve ser revelada quando a lenda é mais interessante. Entretanto em mim este filme destruiu a lenda. O heroísmo era derrotado por uma emboscada na morte do bandido, que nada tinha de heróica. Morreram ali meus heróis do colt. Decepção igual a quando descobri que Papai-Noel não existia.

            Pois bem, a TV mostrou uma filmagem de cinegrafista amador e anônimo (claro) que desmascarou uma história fictícia e heróica contada pelos policiais aqui no Rio de Janeiro. Eles tinham declarado, em entrevista divulgada na mesma TV, que haviam capturado os facínoras em uma troca de tiros. O PM entrevistado até falou em “legítima defesa de injusta agressão”.  Na verdade foram flagrados numa cena covarde atirando na perna de um perseguido já dominado e de mãos para cima. Com imagens chocantes que não deixam dúvidas.

            Com dúvidas ficou a opinião pública quanto aos nossos heróis policiais, nesses dias de UPPs, tão festejadas nas pacificações dos morros do Rio de Janeiro: quantas vezes, longe de nossas vistas, as ações policiais são feitas de maneira covarde e contada como heróica?

            Temos que investigar os crimes policiais de maneira exemplar. Diferente dos criminosos civis, a ação policial é feita pelo Estado. E o Estado não pode julgar e justiçar de maneira sumária. Julgar é tarefa do judiciário. O agente do Estado só pode agir dentro da lei. E atirar no facínora covardemente não está dentro da lei, por maior que seja o crime do bandido. Que fique claro: não se quer defender o facínora, mas a lei.  

             

Um comentário:

Bosco Ferreira disse...

O estado não se vinga, ele faz justiça através dos órgãos de segurança pública e do poder judiciário.